sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Grupo G: Eyes on the prize


Equilíbrio. É a conclusão lógica e imediata de um primeiro exame ao grupo do FC Porto na Liga dos Campeões.

No grupo G, o FC Porto terá a companhia de Mónaco, Besiktas e do estreante Leipzig, um alinhamento que não é carne nem é peixe para os dragões. À semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, o FC Porto vê-se metido numa contenda equilibrada e imprevisível, onde nenhum adversário é impossível mas também não é propriamente acessível.

O tempo da pêra-doce, de resto, vai ficando cada vez mais para trás na eurobola moderna. Vivemos numa era em que o pote 2 é quase tão intimidante quanto o primeiro, o pote 3 soma 21 títulos internacionais e há um campeão europeu no quarto.

A frio, não creio que se possa falar em obrigações para o FC Porto. Sobretudo, dadas as circunstâncias actuais que o envolvem. Por força das regras do fair play financeiro da UEFA, o clube está financeiramente constrangido e limitado a inscrever apenas 22 jogadores na lista A das provas europeias, em vez dos habituais 25 previstos nos regulamentos. O que significa que pode estar uma cefaleia dolorosa no horizonte de Sérgio Conceição.

Além da escolha apertada, o FC Porto terá de lidar com o fantasma de ver os prémios parcialmente congelados, caso não consiga cumprir as medidas operacionais e financeiras acordadas com a UEFA. O que significa que pode estar uma enxaqueca poderosa no horizonte da SAD.

Contudo, há mínimos olímpicos, mesmo para este FC Porto. Em particular, o princípio intrínseco de jogar para ganhar em todos os jogos, um registo que, embora complicado, é perfeitamente possível. Na Liga dos Campeões, o FC Porto não pode pedir muito a si próprio, desportivamente. Mas deve ter os olhos postos nos oitavos e respectivos 6 milhões de euros que vale a passagem à fase seguinte. Além dos 1,5 milhões de euros que encaixa com cada vitória. Se correr dentro do expectável e vencermos, pelo menos, todos os jogos em casa, a coisa pode render perto de 11 milhões. Ou seja, um Adrián López.



AS Monaco: Semi-finalista da edição anterior da Champions, é naturalmente o adversário mais forte do grupo. O maior atestado de competência que se pode carimbar a esta equipa é o título de campeão francês, surpreendentemente resgatado ao PSG, um clube pornograficamente opulento e estadista, que faz a fortuna dos monegascos parecer uma conta-poupança. Muito do mérito do Mónaco deve-se a Leonardo Jardim, um técnico inteligente e doutrinado, que soube acondicionar jogadores de gama média numa equipa topo de gama. Jardim também é conhecido por extrair o melhor dos jovens talentos. Foi assim com Martial, é assim com Mbappé. Felizmente, o mais-que-provável Golden Boy 2016/17 deve sair esta temporada, pelo que a defesa do FC Porto não terá de enfrentar este Barry Allen dos gramados. Desengane-se, porém, quem antecipa um Mónaco fraco. Ainda há o cerebral Moutinho, o renascido Falcao, o atómico Guido Carrillo, os talentosos Rony Lopes e Tielemans e mais setenta gajos franco-africanos com nome acabado em 'é' que podem muito bem vir a ser a nova obra-prima de Jardim. Ah, e um principado sedento de vingar a final de 2004. Serão dois jogos duríssimos, tanto cá como lá. Sobretudo, porque a deslocação ao Louis II, programada para 26 de setembro, antecede a visita do FC Porto a Alvalade para o campeonato, e a receção -- que pode ser decisiva para as contas do grupo -- dá-se depois do FC Porto x Benfica.


Besiktas: Em 2013, o Bleach Report fez uma lista dos estádios mais ruidosos do planeta. O Ataturk Olympic Stadium, a morada do Besiktas, era o segundo. Atrás do Galatasaray e à frente do Fenerbahçe. Acho que isto diz bem da experiência avassaladora -- e inesquecível -- que é jogar na Turquia. O FC Porto até nem se tem dado mal com turcos. E vale dizer que, fora de casa, as equipas turcas costumam autovulgalizar-se, numa espécie de homesickness futebolística que as impede de obter melhores resultados europeus. Esta época, a equipa de Ricardo Quaresma acrescentou qualidade defensiva, com a aquisição dos calejados Gary Medel e Pepe. Sacaram Jeremain Lens ao Sunderland e contrataram Álvaro Negredo para suprir a saída de Aboubakar. Além de Quaresma, Ozyakup e Talisca continuam a ser os principais criadores de jogo do campeão turco, que ainda não encontrou a melhor forma esta época. O Besiktas é a equipa com a qual o FC Porto tem maior hipótese de resgatar pontos perdidos com os outros dois adversários. E temos em Aboubakar um espião de luxo, apesar de o camaronês falhar a partida em casa por castigo. O jogo no Dragão tem uma outra nuance, esta mais feliz: o regresso do Mustang ao seu palco de sempre.



Leipzig: A prova viva de que a Red Bull "dá-te asas". A equipa controlada pela multinacional austríaca é o protótipo do clube-empresa. Arrancou como um projeto financiado e potenciado pela marca de bebidas em 2008, que levou o clube a galgar divisões a eito na Alemanha até chegar ao circuito principal. Em oito anos, o Leipzig passou do escalão amador mais baixo à Bundesliga, onde, na época de estreia, logrou um alucinante segundo lugar. Por muito antiética e neoliberal que seja esta parceria austro-germânica, que não é muito diferente dos takeovers milionários que se tornaram norma no futebol este século, ela foi bem planeada e está bem estruturada. Os responsáveis do clube apostaram numa prospeção altamente eficiente, comandada por Ralf Rangnick, que lhes permitiu contratar bem e barato, com os resultados que se conhecem. O Leipzig descobriu talentos como Emil Forsberg, o número 10 sueco que joga e faz jogar a equipa, ou Diego Demme, uma espécie de Busquets alemão por quem o Leipzig pagou 750 mil euros. Mesmo nos investimentos mais avultados que fez, o clube soube comprar com precisão cirúrgica: Timo Werner, o goleador da equipa, e Naby Keita, o carregador, custaram milhões mas mostram rendimento de milhões. A filosofia Football Manager do Leipzig contrasta com a experiência europeia inexistente. Serão dois confrontos imprevisíveis, até porque a maioria destes rapazes nunca "saiu" da Alemanha. É a maior incógnita do grupo. Mas factos são factos: na liga alemã, só o Bayern fez melhor.


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