terça-feira, 3 de outubro de 2017

Sporting 0 x 0 FC Porto | Trivelas & Roscas



Há coisas que só acontecem uma vez na vida. Ganhar o Euromilhões, ler 'Os Maias', ficar enrolado no pára-quedas ou assistir ao Sporting x Porto sozinho no meio de uma bancada pejada de felinos famintos e ávidos do "sangue" que alimenta a rivalidade, prontos a fuzilar-me os tímpanos com uma carga pujante de mamas e chupas quando as redes de Casillas abanassem. Tenho um gato, por isso sei o que é ser mordido. Estava preparado para isso. Nem tinha sequer a estatística do meu lado. Afinal, o FC Porto ia defrontar tão somente o adversário mais forte desta época, numa casa onde raramente triunfa. Mas movia-me a crença que Sérgio Conceição me injectou. A mim e aos outros três mil tripeiros, ora semeados no pano verde, ora congregados naquele bloco azul maciço, a personificação de um mar que nunca se cansou de ser bravo. No fim de contas, saímos todos pela mesma porta por onde entrámos. Com o mesmo respeito e a mesma distância pontual e emocional. Deste meu convívio saudável com sportinguistas anónimos sobram duas certezas: a de que o FC Porto é, para já, a equipa mais forte do campeonato. Mas também a de que este leão tem garras para açambarcar o título.



Primeira parte:
45' minutos de domínio claro, grande intensidade e fulgor ofensivo que só não resultaram em golos porque faltou acerto na conclusão. Na retina fica um lance de Herrera, que desperdiçou um contra-ataque auspicioso com um remate para o boné. Foi a segunda pior decisão do ano, só batida pelo momento em que Pedro Passos Coelho decidiu recomendar Teresa Leal Coelho para a corrida à Câmara de Lisboa. Quando não eram as ideias de jerico a travar-nos, São Patrício expurgava os males do Sporting. O guardião leonino continua a ser um empecilho maior para o FC Porto do que Isaltino Morais para a política portuguesa. O meio-campo portista ocupou bem o buraco oferecido pelo pelo Sporting e tanto Aboubakar como Marega estiveram muito activos enquanto as pernas não cederam e o motor central não agarrou.

Brahimi: O dínamo da equipa. O argelino esteve tão endiabrado que acho que Sérgio Conceição lhe impingiu a ideia de que o clássico contava para a Liga dos Campeões. Zoeira. Brahimi tem estado numa forma soberba e já não é de agora. Faltava-lhe presença nos grandes jogos e parece que o freestyler portista venceu finalmente essa malapata. Bem acompanhado por Alex Telles, Brahimi forçou Piccini a cingir-se à defesa e obrigou Gelson a vir mais vezes atrás apagar fogos. Não se pode dizer que a extrema-esquerda portista obteve um excelente resultado, mas pelo menos fez muito melhor figura do que o PCP no domingo.

Tríade Felipe/Marcano/Danilo: O ataque do Sporting andou desaparecido neste triângulo das Bermudas durante a primeira metade. O comité central do FC Porto desnorteou a bússola do adversário e ganhou praticamente todos os duelos directos, a ponto de Iker Casillas não ter feito uma única defesa durante esse período. O brasileiro esteve menos ébrio e mais atento, o espanhol manteve o bom nível a que nos habituou e o português fez mais cortes do que a coligação PSD/CDS durante os anos do resgate. Na segunda parte, acusaram o cansaço e o ascendente do Sporting, mas nem assim permitiram grandes veleidades. Imperiais.



Timing das substituições:
Tal como esta crónica, chegaram demasiado tarde. E no caso de Otávio nem devia ter acontecido. Ao ver a equipa decair na segunda metade, Sérgio Conceição demorou a impedir que o jogo ficasse repartido. Tentou depois reverter a falta de ímpeto do miolo com o nervo de Otávio, quando o jogo pedia Óliver e a sua matemática capacidade de temporização. No banco, por demasiado tempo, ficou também Corona, que bem podia ter sido mais bem aproveitado para desbaratar um já arruínado Jonathan Silva. No entanto, entendo a cautela, sobretudo tendo em conta que, a partir de certa altura, segurar o empate tornou-se bem mais prioritário do que procurar a vitória.

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2 comentários :

Comenta com respeito e juízo. Como se estivesses a falar com a tua avó na véspera de Natal.