segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Estórias de embalar: O artista cego

Era uma vez um artista.

Um artista cego que ganhava a vida a ver o que os outros não viam.

O artista dizia ter um dom e o seu número era tão bom que deixava o povo de olhos em bico.

Um dia, o artista foi contratado por uma companhia de circo. “O olho que tudo vê”, assim se apresentava o espectáculo.

O sucesso do artista cego logo começou a crescer a olhos vistos. Apadrinhado pela real companhia, o artista foi brilhando nos pequenos palcos até chegar aos grandes anfiteatros do país.

Era um fenómeno, o artista cego. Por onde passava, as suas performances deixavam legiões de fãs perplexos.

Mas o artista cego também coleccionou cépticos. Gente que desacreditava os seus predicados e desconfiava da sua visão milagrosa, tomando o artista por fraude.

Para a trupe circense, os cépticos não eram mais que meros imbecis que invejavam a arte do artista. Por isso, a companhia decidiu montar um espectáculo de renome para provar a extraordinária capacidade do artista cego. E logo na abertura do grande evento, a companhia deu-lhe o palco principal.

O artista cego aceitou o desafio, encheu-se de brio e ofereceu um festival do outro mundo. Conta quem lá esteve que o artista deu uma demonstração quimérica e inigualável do seu enorme talento, levando todos na audiência ao gáudio.

Todos, excepto um.

Um turista, que, de visita àquelas paragens, parecia não estar a ver o mesmo que os outros. Tanto que no final da actuação, intrigado por ver tanto êxtase para um número tão pobre, o turista perguntou ao artista como é tinha tanto sucesso.

O artista cego sorriu. Pediu ao turista para olhar à sua volta e confessou:

O cego aqui não sou eu, amigo.

São eles.



3 comentários :

  1. fan-tás-ti-co!
    muitos parabéns! nunca ninguém, até hoje, conseguiu descrever o rui gosma da selva como tu o fizeste. ah!, desculpa, acho que te estavas a referir ao go(rdo)bern... ah!, desculpa, afinal é a toda a redacção do pasquim da Travessa da Queimada. :D

    no fundamental e sem ironias:
    muitos parabéns!, "drax"! mesmo! fantástica alegoria.


    somos Porto!, car@go!
    «este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

    abr@ços
    Miguel | Tomo III

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    1. Cabe à corja toda, sobretudo a quem não consegue ver o empurrão de Luisão na área, mas já consegue ter a vista cristalina para perceber que a mão de Mattheus foi clara como água.

      Forte abraço, Miguel!

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  2. Miguel,

    A mim veio-me a cabeça a crónica do JN... Que viram um jogo que não existiu....

    Mas a fantástica carapuça do Drax é tão grande que abafa qualquer melão!!!!!

    Drax mais uma vez, INCRIVEL!!!

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