domingo, 16 de agosto de 2015

FC Porto 3 x 0 VSC: O regresso da chama ao Dragão

Nota prévia: Não irei escrever crónicas dos nossos jogos ou tentar resumi-los, já existe quem o faça muitíssimo bem na bluegosfera. Daqui, esperem uma análise mais individualizada e centrada em pormenores e momentos que considerar relevante destacar nas partidas do FC Porto. De qualquer forma, estarei sempre aberto a sugestões e a rubrica sujeita a reformulações. Que é como quem diz, vamos pensando jogo a jogo.

Agora o que interessa: Bravo! Óptima estreia contra um combalido mas sempre complicado Vitória SC. Jogo de grande nível, sobretudo na primeira parte, com a equipa a mostrar a mesma capacidade de posse do ano passado mas num registo bem mais rápido e dinâmico, especialmente nos corredores. O meio-campo do FC Porto parece ter entrado na mesma máquina onde entrou o Capt. Steve Rogers e regressou esta temporada com mais 200 cavalos e um músculo impressionante. Perspectiva-se também alguns casamentos felizes nas alas, sobretudo entre Varela e Maxi. Posto isto, vamos a notas.


MAIS
Aboubakar: Sou suspeito, adoro este chavalo. Gosto de jogadores que assumam o protagonismo dentro do relvado e que saibam a importância de o dividir fora dele. Aboubakar, para lá do excelente jogador que é, tem demonstrado ser um profissional de topo e uma pessoa extremamente simples, que não consegue festejar um golo sem agradecer de imediato a quem lho ofereceu. Passou um ano na sombra de Jackson Martinez e nunca miou: pelo contrário, aproveitou para aprender com o colombiano e este ano foi à luta. O que vimos hoje bem podia ter sido uma noite do Cha Cha Cha: Apoio incansável à linha média, disfarçando-se de quarto médio quando a equipa precisava de construir; facilidade em jogar de costas para a baliza adversária e um sentido de pressão assinalável. Marcou dois golos e ainda ofereceu outros tantos. Luís Freitas Lobo teve sobre ele uma intervenção curiosa a meio da primeira parte: 'Longe da bola, perto do jogo'. Não podia estar mais de acordo.

Maxi Pereira: A exibição do uruguaio foi digna de um episódio de Mythbusters. Em primeiro lugar, Maxi desmistificou que veio para o FC Porto "gozar uma reforma dourada". O salário até pode ser principesco, mas o uruguaio mostrou que não veio passar férias e tem respondido com uma entrega e qualidade exibicional bastante agradáveis. Depois, Maxi Pereira provou que está longe de estar "velho". Aos 31 anos, mantém um pulmão invejável, com capacidade para fazer um sprint aos 88 minutos, tendo sido hoje o terceiro jogador do FC Porto com mais kms percorridos. Já no clube anterior Maxi era tal qual Vinho do Porto. Oh, the irony. Mas Maxi não é só um caçador de mitos. Com uma raça que contagia, duas assistências para golo e uma química com Varela que promete, o uruguaio vai confirmou o que já se suspeitava: é realmente um jogador à Porto.


MENOS
Herrera: O mexicano tem um problema. Executa passes como eu escrevo no computador. Ou seja, da mesma forma que eu ainda sou daqueles que precisa de olhar para o teclado para escrever, Herrera também precisa de olhar para a bola -- quando devia olhar para o jogo -- para passar, o que faz com que, na maioria das vezes, no momento em que toca na bola para a endossar, já o seu destinatário está uns metros à frente da trajetória pensada pelo mexicano. A este lag no tempo de reação soma-se outro handicap: Herrera é daqueles jogadores que acumula psicologicamente os erros que comete. Parece que tem um Quetzalcóatl qualquer na consciência a gritar-lhe impropérios em loop assim que o mexicano faz o primeiro disparate do jogo. Está cansado e isso é evidente e André André, pelo que fez na segunda parte, mostrou ser uma opção mais viável nesta altura.

A falta de um 10: Pode parecer estranho tocar neste assunto num jogo em que a equipa até mostrou um desembaraço interessante no último terço. Mas isso também ajudou a perceber a falta que faz um jogador mais vocacionado para pisar terrenos mais próximos da linha avançada. Atualmente, há um conflito visível entre a mentalidade de jogo da equipa e a sua disposição táctica. Lopetegui pede extremos abertos, que funcionem como os melhores amigos da bandeirola de canto, mas o ponta-de-lança desta versão do FC Porto é frequentemente forçado a recuar para dar uma perninha na construção de ataques continuados. Este desposicionamento cria um desequilíbrio na área, onde várias vezes acaba por faltar o avançado para concluir aquilo que ele próprio iniciou. E isso é, essencialmente, o papel de um... 10.


Momento: Minuto 56'. Após canto para o Vitória, Cafú remata colocado, mas a bola bate nas pernas Alex Sandro. Através de uma das câmaras colocadas por detrás das redes de Casillas, é possível ver que a bola estava na trajetória da baliza, sendo improvável que o guarda-redes portista a pudesse travar. Seria o empate para os vimaranenses, que estavam por cima nessa altura, e podia ter complicado seriamente o jogo para o FC Porto.


Pormenor: Foda-se, a sério? Assobios ao intervalo? Depois uma primeira parte bem conseguida da equipa, frente a um adversário que se reforçou bem e nos roubou pontos a época passada, tudo o que uma -- felizmente -- minoria de adeptos tem para oferecer à equipa é um recital de silvos mais irritante do que um concerto do Toy com uma orquestra de vuvuzelas? A menos que o João Gabriel estivesse a passar por detrás do estádio naquela altura e eu não tenha visto, este escabeche é dispensável.

EDIT: Texto elaborado ontem. Já mais a frio, e depois de o nosso caro Miguel Lima do Tomo III me ter alertado para o facto de os assobios se destinarem, segundo OJOGO de hoje, ao árbitro da partida, Fábio Veríssimo, por ter terminado a primeira parte mais cedo, faço mea culpa do supracitado. A questão dos assobios é delicada para mim e nós sabemos que uma pequena facção do tribunal do Dragão às vezes é demasiado implacável para com a equipa. De qualquer forma, erro meu. Mil desculpas.

@


In a nutshell, abrir o campeonato com uma vitória é sempre positivo. Não garante nada, mas dá uma importante dose de confiança extra para a próxima jornada, onde temos um borrego para afogar antes que nasça.

O meu desejo daqui para a frente é que todas as flash interviews do FC Porto sejam em francês. Não vou perceber ponta, mas será bom sinal.

4 comentários :


  1. @ drax

    gostei muito da tua análise ao jogo de ontem.
    para início, está muito bom, com expectativas altas: não só as futuras prosas, como o que por aí vem, no Campeonato :)

    por último, acho que os assobios foram para a equipado VVeríssimo. o jornal 'ojogo' refere esse facto, na edição de hoje. acho que o apitador terminou o jogo antes do tempo regulamentar...

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. Grande Miguel!

      Assim sendo, menos mal. Ainda não fiz a revista de imprensa hoje, não notei esse facto.

      Na altura, fiquei com a ideia de que as assobiadelas poderiam ser para a equipa, visto que o FC Porto tinha falhado ali dois ou três passes mesmo em cima do final da primeira parte. E como escrevi o texto ainda ontem, confesso que estava atiçado com isso.

      O árbitro de Peniche, devo dizer, confirmou aquilo que já se previa. Ainda está verde para palcos desta envergadura. Então aquela sucessão de "apito, deixo jogar, apito, deixo jogar, apito..." foi o exemplo do desnorte do rapaz, que teve a sorte de os jogadres lhe terem facilitado a vida.

      Esta vitória deixou-me otimista. Foi uma exibição que superou as minhas expectativas, depois do desfalque que o onze levou face à época passada. Estou confiante para o futuro. Viram-se bons sinais não só no relvado como no balneário.

      Quanto às prosas, Miguel, uma vez mais: obrigado. Vou tentando aprender com os melhores. E você é um dos grandes responsáveis por isto. Já acompanho o Tomo desde o II. Que nunca lhe falte a força nos dedos, é o que peço.

      Forte abraço.

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    2. @ drax

      muito obrigado! pelas gentis palavras! :D
      (é sempre gratificante saber que o nosso trabalho é apreciado e que não é em vão. deixaste-me embevecido :D )

      no fundamental:
      penso que já no próximo Sábado saberemos de que "massa" é feita este plantel, num encontro difícil e para o qual estou (muito) optimista.
      ah!, e podes fazer o favor de me tratar por tu; doze anos de diferença é quase nada, car@go! :D


      somos Porto!, car@go!
      «este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

      abr@ço
      Miguel | Tomo III

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    3. Combinado! Obrigado pela recepção aqui na bluegosfera. :)

      Sábado, creio que teremos o jogo com maior grau de dificuldade do campeonato a seguir aos clássicos.

      Em teoria, claro. Até porque o fator psicológico vai entrar naquele campo maldito.

      Mas também acredito que, se vencermos, resolvemos uma importante dor de cabeça praticamente a abrir o campeonato, o que será muito positivo.

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