quinta-feira, 20 de julho de 2017

Hugo Gil e Mentira


O que mais me fascina na cultura do Estado Lampiânico é a forma como os seus partidários traçam toda a palha que lhes é dada sem questionar absolutamente nada. Gente obnóxia, sem olho clínico ou espírito crítico. Pensar dá trabalho e talvez seja desse torpor interior que nasce o orgulho de ser do clube das massas.

Parece que está no sangue de muitos deles debitar merda a torto e a direito sem fazer um esforço para, pelo menos, acertar no que estão a dizer.


Um dos exemplos deste distúrbio é o infame Hugo Gil e Benfica. A sua página de facebook tem mais de 265.000 seguidores -- muitos deles, estranhamente, adeptos de clubes rivais -- para os quais este cartilhado amador escreve regularmente.


Hugo Gil é um dos pilares da comunicação oficiosa da sua agremiação, aproveitando a sua dimensão virtual para criar soundbyte e lançar desinformação no espaço mediático.


É mais frequente vê-lo falar dos rivais do que do seu clube. É mais habitual vê-lo bolsar os dogmas do nacional-benfiquismo sob anonimato no Fórum TSF do que a escrever uma análise fértil sobre a sua equipa. É muito comum vê-lo pintar quadros alternativos nas redes sociais, onde cultiva mentiras avulsas para camuflar a podridão que grassa no seu emblema.

A mais recente pérola deste desconchavado surge a respeito de um comentário do director da Fundação Sporting sobre as boas práticas de César Boaventura, o director da GIC, e à proximidade do mesmo com o próprio Hugo Gil.


Não sei o que é pior. Se a surrealidade de associar uma mera disfagia humana à mentira deliberada, insinuando que quem gagueja mente, se a afirmação de que César Boaventura não faz parte da GIC, quando isso está em praticamente escarrapachado em todas as páginas da internet. Pelo próprio César.

O famoso homem dos maletines, podem recordar neste trabalho do Mister do Café, é o número 1 da GIC, como ele próprio não se cansa de mostrar publicamente.



É fácil entender que Hugo Gil anda aos papéis no mundo da bola. Está a jogar um jogo muito acima do seu campeonato. Não faz a mínima do que está a acontecer. Não sabe que o que está em causa é o conflito de interesses que envolve João Moura e a incompatibilidade que existe na sua nomeação para delegado da Liga numa altura em que trabalha indirectamente para um clube dessa mesma Liga. 


Não dá para colocar Hugo Gil ao nível dos outros cartilhados. Acusar Hugo Gil de ser intelectualmente desonesto, por exemplo, é altamente injusto. Não se pode ser extremamente burro e intelectualmente desonesto ao mesmo tempo. A ignorância comporta uma certa condição de ingenuidade. E Hugo Gil é apenas isso. Um adepto ingénuo, fanático e subserviente que não sabe o que diz nem diz o que sabe.
 

Tom Parsons (Gregor Fisher) em Nineteen Eighty-Four de M. Radford

Hugo Gil faz-me lembrar Tom Parsons, uma personagem irritante de 1984, a obra prima de Orwell que enfia a carapuça a inúmeros regimes totalitaristas como o Estalinismo, o Nazismo, o Estado Novo e o Lampiânico.


Parsons era um acéfalo que comia o que lhe davam e que repetia o que lhe diziam.


Um dia, porém, acabou traído pelo Partido que tanto admirava.


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Afonso de Melo, o cartilhado do i/Sol


Afonso de Melo é um jornalista e escritor vulgar português, que conta com uma longa carreira ao serviço do vieirismo e do nacional-benfiquismo. Mais do primeiro do que do segundo, curiosamente.

Melo acumula duas funções interessantes: além de colunista no jornal "O Benfica" e ocasional comentador da BTV, é o atual editor do desporto dos jornais i e Sol.

Ou seja, é Melo quem decide o que é investigado, dissecado, escrutinado e publicado na secção Desporto dos referidos jornais.

Não surpreende por isso o silêncio profundo de ambas as publicações em relação ao escândalo de corrupção desportiva que despiu o Benfica. O jornal i, por exemplo, sempre muito ávido a investigar as vicissitudes dos poderes nacionais, tem passado ao lado BenficaGate e dos emails como se o assunto não existisse. Conhecido pela capacidade de conceber capas de encher a retina, o jornal tem feito juz à fama e encoberto o assunto como ninguém.

Uma rápida consulta à publicação online mostra uma mão cheia de nada sobre o que realmente tem marcado a atualidade desportiva. Pelo contrário, o jornal mostra-se mais interessado em propagar fait-divers como o de Francisco Geraldes. Ou em destacar as manifestações de carinho do Benfica.

Afonso de Melo, em particular, tem estado nostálgico nas últimas semanas. Nas suas crónicas de opinião, tem-se dedicado à memorabilia, recuperando velhas glórias e episódios da história do futebol e, pasme-se, ressuscitando equipas de quem já nem o tempo se lembra. Tudo, certamente, por falta de assunto.

Apesar de pisar os mesmos corredores da elite encarnada, Melo é um dos cartilhados a quem o seu próprio clube dá pouca importância. Possivelmente, face à falta de expressão que os jornais onde trabalha têm na esfera pública.

Contudo, não deixa de ser um autodidata, aproveitando a posição privilegiada para dar o seu contributo no branqueamento dos crimes do Benfica.

O seu mais recente artigo de opinião, publicado hoje, recupera o episódio mais mediáticos do Apito Dourado: o encontro entre Pinto da Costa e o árbitro Augusto Duarte, o juiz do Beira-Mar x FC Porto, da 31ª Jornada, disputado em Aveiro a 18 de abril de 2004.


Um jogo que, recorde-se, acabou empatado a zero, tendo tido igualmente zero influência no desfecho do campeonato nacional nesse ano. Porém, esse pormaior não foi mencionado no artigo.

Dois dias depois da absolvição de Pinto da Costa e do FC Porto do processo Apito Final, Afonso de Melo decidiu sair de debaixo da pedra e transcrever autos do acórdão sob a forma de crónica de opinião.

Não deixa de ser curioso que tenha sido o mesmo Afonso de Melo que, a 15 de junho de 2016, na BTV, disse não ver "nada de errado" nos emails.

Já todos sabemos como acabou o processo Apito Dourado. O que falta saber (e faltou escrever por Afonso de Melo) é como o mesmo começou e porque parou em Leiria.

Outro dos hobbies favoritos de Afonso de Melo é promover-se como justiceiro de bolso. Viajemos um pouco atrás no tempo. A 7 de junho de 2013, o aguedense de 53 anos escreveu isto:


Dir-se-ia que Melo terá esquecido muita coisa. De que a agremiação que representa é responsável pelos únicos dois homicídios relacionados com futebol em Portugal. Dos "seus" Hugo Inácio e Lué. De Rui Mendes e de Marco Ficini. Da emboscada à equipa de hóquei no Estádio da Luz que deixou Filipe Santos em coma, do autocarro de adeptos do FC Porto incendiado em Lisboa e dos adeptos do FC Porto apedrejados no Jamor na Final da Taça.

Dir-se-ia que foi tudo esquecimento. Mas, na verdade, não foi. Apenas desonestidade, indecência e prostituição intelectual. Atributos em que, aí sim, Afonso de Melo é realmente musculado.


Vejamos novo acto de contorcionismo. Em outubro de 2016, a secção gerida por Melo apressou-se a ilibar o Benfica de qualquer comportamente incorrecto no caso dos vouchers:


Interessante. Em apenas três anos, a opinião de Melo sobre a oferta de refeições a árbitros mudou radicalmente:


Afonso de Melo tem tido dias complicados. Desde o final do ano passado que tem perdido a voz para muitas matérias. Hoje, teve um espasmo, um assomo de justiceirismo neo-encarnado, próprio de quem quer a rua limpa mas não olha para o lixo que tem em casa.

Pode ser que alguém repare nele. Para quem já nasceu cego e invertebrado, estar mais do que morto deve ser uma condição difícil de aceitar.


sexta-feira, 14 de julho de 2017

Powered by Altice

Nada será como antes. A compra do Grupo Media Capital (dona da TVI) pela Altice (dona da MEO) vai mudar o paradigma dos media em Portugal e a sua relação com os clubes de futebol. A começar pelo FC Porto.

Importa perceber que as implicações deste negócio vão muito para além dos setores envolvidos. Sobretudo porque Altice e NOS são as principais fontes de receita publicitárias dos três clubes grandes em Portugal e da própria Liga, tendo por isso um vínculo muito directo com o futebol português.


A Altice é o principal patrocinador do FC Porto. Em dezembro de 2015, celebrou um acordo de direitos televisivos, publicidade estática, patrocínio nas camisolas e exploração do Porto Canal com o clube por cerca de 457 milhões de euros, sensivelmente o mesmo que vai pagar agora para adquirir a holding que detém a TVI.

Ora, TVI e FC Porto são duas coisas que não casam.

Desde o regresso ao canal, em 2014, de José Eduardo Moniz, um dos atuais vice-presidentes do Benfica, que a estação de Queluz de Baixo tem adotado uma postura pró-Benfica cada vez mais evidente.

Apesar de ter voltado "apenas" como consultor da área da ficção e entretenimento, ou seja, sem funções executivas, é inegável o peso e a influência de Moniz na estrutura de um canal que foi "seu" durante 11 anos (1998-2009).


O plano foi bem-sucedido. Moniz e o Benfica transformaram a TVI num veículo insuspeito da máquina de propaganda nacional-benfiquista, a mesma que hoje branqueia a todo o custo o maior escândalo de corrupção do futebol português.

Basta um breve olhar ao rooster actual dos programas desportivos "independentes" da TVI24 para constatar a precisão cirúrgica das contratações com a recomendação de Moniz.

Desde o convite ao incendiário Pedro Guerra -- agora exposto como uma das faces mais ativas do Apito Divino --, à ascensão de tipos como Rui Pedro Braz ou Luís Aguilar, os perigosos "independentes" que actuam sob o signo da cartilha encarnada, passando pelas manifestações pontuais de antiportismo de Pedro Pinto, um dos principais responsáveis pela informação do canal, a TVI tem demonstrado uma aproximação clara ao clube de Carnide.

A entrada em jogo do principal sponsor do FC Porto e do Sporting na estação é uma boa oportunidade para raspar parte do cancro. Mas se por um lado, convida a um possível reequilíbrio de poderes dos clubes nos media, por outro arrisca criar outros desequilíbrios.

Desde logo porque a fusão TVI/MEO abre uma nova corrida entre os operadores de telecomunicações às produtoras de conteúdos, pelo que não será nenhuma surpresa se nos próximos meses a NOS responder com uma oferta sobre a Impresa. Ou sobre a Cofina.

Para onde caminha a independência da comunicação social no meio disto tudo? E em que pé fica o valor comercial dos clubes perante este cenário?

É difícil prever o que vai acontecer a partir de agora. A única certeza é que a rivalidade deixou de ser meramente clubística e entrou oficialmente no sempre nubloso domínio ultracorporativo.

E não me lembro de nenhum emblema desportivo que alguma vez tenha saído a ganhar com as guerras de concorrência do grande capital. Nem de nenhum campeonato.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Zé Marinho, o novo Berra

Em meados da década de 10, havia por aí um ícone da desonestidade intelectual que dava água pela barba aos rivais: Pedro Berra.

Berra era um avençado muito forte. No um para um, não dava qualquer hipótese. Arrumava sempre todo e qualquer argumento pela técnica da força e não pela força da técnica.

A estratégia era simples, mas inovadora. Berra apostava tudo no decibel. Na falácia em vez da razão. No atropelo da verdade com a mentira.


Na arte de fintar a realidade com o delírio não havia melhor no seu tempo. Quem jogou à bola sabe 
disto.

Contudo, um assomo de Alzheimer precoce acabaria por travar o voo do predestinado Pedro para outros patamares. Ironicamente, foi a falta de memória de Pedro Berra que levou os seus colegas de cartilha a votarem-no ao esquecimento.

Também porque na forja estava um outro avençado com imenso potencial: Zé Marinho. Ou Eagle One noutros círculos.

Igualmente versado em terrorismo comunicacional, Zé é uma figura em ascensão no Estado Lampiânico. Continua a não saber como funciona uma royalty, mas também não é para isso que lhe pagam. Na verdade, o avençado até faz muito bem o seu trabalho.


Ao contrário de Berra, que nos últimos anos foi perdendo mobilidade, Zé é um ponta-de-lança muito móvel. Em menos de dois anos, passou de anti-vieirista para vieirista acérrimo.

Agora um dos pentes mais proeminentes do bigode do ditador lampião, o avençado deixou o "doentio mundo das redes sociais", onde continua a escrever regularmente, para se entregar "ao estado mais puro e saudável de ser Benfica". Entende-se. Criticar um presidente que deu um tetra -- seja de que forma for -- é meio caminho andado para levar na tromba dos que querem vencer a todo o custo.


A imprevisibilidade é outra das marcas distintivas de Zé Marinho. O homem que diz escolher não ver programas de tertúlia futebolística em Portugal é atualmente comentador do programa Aquecimento na BTV, uma tertúlia sobre futebol.


A capacidade de dribble intelectual de Zé é notável. Em março deste ano, disse na mesma entrevista que o futebol português "é só truques", para logo a depois afirmar que acredita "mais hoje [nos árbitros] do que acreditava há vinte anos". Ele lá saberá porquê.

(Afinal, a culpa foi de quem fez o passe.)
Zé tem também uma enorme capacidade de antecipação. Consegue prever o mercado como ninguém. Zé antecipou com sucesso a venda de Carrillo por 35 milhões de euros, a ida de Diogo Jota para o Benfica, a vinda de Guardiola ao Estádio da Luz, a compra de Pjaca, a saída de Jonas, Hildeberto como o novo Renato Sanchez e por aí fora. Tudo tiros certeiros. Como faz um bom avençado.

Contudo, neste aspeto em particular, Zé tem a forte concorrência de uma outra promessa da agremiação: Rui Pedro Braz. Um dia, falarei sobre este wonderkid.

Mas há mais a unir Berra e Zé, além do corte de cabelo tosco. Um ódio inestimável pelos rivais, em particular o FC Porto, alimentado por uma constante distorção dos factos e de uma cegueira que faria Saramago repensar uma das suas grandes obras-primas.

Não é má interpretação. É cegueira.

Mais dia menos dia, Berra cai da cadeira. E alguém terá de o substituir na propaganda nacional-benfiquista, no branqueamento dos crimes do seu clube e na defesa do indefensável.

Nada se perde, tudo se transforma.

@

Nota final: Quem se quiser divertir um pouco mais a acompanhar a carreira deste avençado do Estado Lampiónico pode procurar pela hashtag #AVidaSegundoZeMarinho no Twitter. Um belo projecto do @nunovalinhas.

Espreitem.