domingo, 4 de março de 2018

FC Porto 2 x 1 Sporting | Trivelas & Roscas


Mais do que os golos, a maior herança que Jardel nos deixou foi esta obra-prima: "Clássico é clássico e vice-versa". Jardel provavelmente estava bêbado, mas tinha razão. Vamos subir juntos a escada do conhecimento e perceber o alcance deste pedaço de sabedoria gourmet. Um clássico é mais imprevisível do que a trajectória de um avião de papel. Um clássico também pode ser mais injusto do que um juiz-desembargador ou mais inclinado do que o Estádio Nacional do Benfiquistão. O que um clássico raramente é, é extremamente desequilibrado como Pedro Guerra. E 99% das vezes um clássico é um jogo que faz história. Um duelo à parte, que marca toda uma época. Se em Maio, os Aliados estiverem a abarrotar, garanto-vos que grande parte das conversas vai andar à volta da paradona épica de Casillas, da assistência de Gonçalo, do jogaço de Dalot, do falhanço (e do bom jogo) de Leão, do penalty sobre Doumbia ou da falta a meio-campo antes do golo do empate, da superioridade geral do Sporting e da eficácia do FC Porto. Foi uma bela homenagem à grandeza das duas equipas, um espectáculo bem condimentado, com emoção, sofrimento, injustiça, ansiedade, euforia e frustração. Infelizmente, levou Coentrão a mais. Mas um cagalhão só é bem-vindo no esgoto. Vamos a notas.



San Iker: Bendita a hora em que Sérgio Conceição se marimbou para o politicamente correcto e desfez a mudança que ele próprio promoveu. Sá é bom e tem tempo para ser melhor. No entanto, Casillas é o homem certo para o momento actual da época e ontem voltou a ser fundamental. Foi imprudente, Montero, quando tentou voar demasiado perto do sol. Foi imponente, Iker, a castigar a insolência do colombiano com o olhar que os comuns mortais merecem. É o preço que se paga por brincar com os deuses. Embora a equipa não tenha sido tão serena a defender como habitualmente acontece, foi Iker quem colou o nervo da defesa na hora do aperto. Seguro. Soberbo. Santo.

Dalot: Para primeiro clássico, não está nada mau. É difícil encontrar alguém tão novo com a maturidade tão apurada no futebol português. Sentiu algumas dificuldades em coordenar-se com os colegas da defesa por falta de rotina mas, no ataque, parecia conhecer Brahimi da primária. No lance com Doumbia, deixou-se vencer pela inexperiência. Embora não me pareça penalty, se fosse assinalado não me chocava. De resto, este a bom nível em todos os aspectos. Vai ser importante nos últimos quilómetros desta época e indiscutível na próxima.

Produtividade: Ao contrário do que li por aí, o FC Porto não foi menos produtivo do que costuma ser nos embates frente ao Sporting. Na verdade, o FC Porto criou mais uma oportunidade flagrante (5) do que a média dos confrontos anteriores contra o rival (4). Sucede que fomos mais assertivos a explorar os desequilíbrios abertos pelo balanço ofensivo do Sporting, sobretudo nos dois corredores, mais pragmáticos nas transições e acertámos menos vezes em Patrício, o que também ajuda. A ideia de que criámos menos mas marcámos mais é um mito, uma análise na diagonal extraída pela exibição menos conseguida.



Menos Porto: A verdade é que o FC Porto não fez um grande jogo. Não do ponto de vista estético, pelo menos. O Sporting, talvez porque tinha de assumir, foi mais agressivo na disputa pela segunda bola. Contudo, no Dragão, estou sempre à espera que o incentivo dado pela onda azul dê os centímetros que faltam para chegar primeiro. Só que desta vez não aconteceu. Sem bola, a equipa pareceu não ter ordens para pressionar alto e defendeu sempre com o bloco baixo, o que permitiu várias incursões aos jogadores do Sporting área adentro. O problema, julgo, esteve na abordagem ao jogo a meio-campo. No miolo mais suave do que o costume e em dois ou três dejá vus de experiências traumáticas do passado: as paragens cerebrais de Herrera e as parvoíces de Sérgio Oliveira, como a de tentar marcar um canto olímpico.

Corona: Horrível, como um elefante numa loja de espelhos. Virou uma data de bandejas de prata, sobejamente preparadinhas, com centros balísticos e passes antrofóbicos. A certa altura, nos mil contra-ataques em que podíamos ter matado o jogo, já havia um certo sentimento de decepção antecipada, de que se a bola chegasse a Corona a jogada iria afundar-se numa decisão absurda do mexicano.

Lesões: As putas das lesões. E sempre em dose de cavalo para dar uso ao estaleiro. Por este andar, vamos chegar a maio com o ginásio do Olival mais povoado do que o Fitness Hut a 2 de janeiro.

1 comentário :

  1. Boa noite Drax,
    Concordo com a maioria das tuas observações, designadamente a que se refere a não termos feito um grande jogo. Mas prefiro um jogo menos bem conseguido com vitória do que uma retumbante vitória moral.
    Fartámo-nos de fazer força. Aqueles rapazes bem o merecem.
    Quanto ao "penalty", lá não deu para ter uma opinião mas em caasa fiquei com a ideia de que, embora mal teatralizado, haveria lugar a pontapé de penalty dado ter havido contacto. O que o ASD provavelmente interpretou foi o tal teatro com que o doumbia pretendeu adornar o lance. De qualquer forma tivesse sido na área do scp e o resultado menos simpático e estaríamos a amaldiçoar toda a equipa de arbitragem, VAR incluído, e a contabilizar mais 2 ou 3 pontos perdidos. Não gosto, prefiro tentar ao máximo ser, também nesse aspecto, anti-lampião, i.e procurar ver com os olhos de ver e não com os olhos de traça-palhas.
    Oito vitórias, escrevia o Reflexão Portista. Acho que sim, mas estou inquieto pelos adversários que nos restam por esta ordem de preocupação: belém, marítimo, p. ferreira, guimarães, jogos em casa, slb em carnide. Eu explico, é que o único em que não vai haver jogo da mala é quando defrontarmos os sacanas-sem-lei. Escrevi no blog do Lápis que, à condição, sublinho à condição, já estão muitos milhões em jogo a facturar à conta do PETA condicionado.
    1 abç e viva o FCPorto.
    PS: O belém está a subir de forma com a ajuda preciosa das arbitragens; o marítimo foi a carnide cumprir calendário, pudera se a distância aumentasse para o FCP, dentro da mala levariam um coentrão mal-cheiroso.

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