quinta-feira, 1 de março de 2018

R&C | Os números do FC Porto


Chamemos os números pelos nomes. O FC Porto apresentou ontem as contas do primeiro semestre e o resultado tem tanto de desconfortável quanto de expectável.

Os traços gerais vocês já sabem. Continuamos no vermelho, mas o prejuízo desagravou ligeiramente para cerca de 24 milhões de euros, contra os 29,5 milhões do período homólogo.


Na base desta melhoria está uma conjugação entre o aumento das receitas e a diminuição dos custos. Isto excluindo vendas de jogadores.

Que isto dizer que nos últimos seis meses de 2017, a SAD portista rentabilizou rubricas como a publicidade & sponsorização e averbou maiores receitas televisivas.

No caso da publicidade, não tendo havido nenhuma renegociação de contratos vigentes, o aumento deve-se às variações habituais que existem entre períodos. Já as receitas televisivas cresceram sobretudo devido ao calendário desportivo, pois entre junho e dezembro de 2017 jogámos mais um jogo em casa (9) do que em igual período do ano anterior (8).

Curiosamente, a coluna que fez verdadeiramente a diferença neste quadro foram as Outras Receitas Desportivas. Esta rubrica disparou quase 2,5 milhões de euros. E porquê? Por causa da presença na Supercopa Tecate, durante a pré-época.

Isto é particularmente assinalável porque podemos estar perante uma mudança de paradigma. As digressões intercontinentais, embora submetam as equipas a preparações por vezes deficientes e a um desgaste desnecessário, são uma boa fonte de rendimento para SADs com cada vez menos capacidade de financiamento, como é o caso dos três grandes. Desconfio de que vamos ver isto acontecer mais vezes nos próximos anos.

Continuo a não ser muito favorável a esta política, mas se o FC Porto for campeão este ano, não haverá muita gente a poder contrargumentar com o impacto desportivo que estas deslocações têm no arranque do campeonato. Lembrem-se que em 2016, polvos à parte, o Benfica também fez o mesmo e venceu o título nacional.


Estes proveitos compensaram a quebra das receitas nas competições europeias este ano. A SAD encaixou menos em 2017/18 porque perdeu mais um jogo na fase de grupos esta época e não passou pelo playoff (que o ano passado nos rendeu mais 2 milhões de euros extra).

Do lado da despesa, o destaque vai para o alívio de cerca de 3 milhões de euros da massa salarial com atletas, sobretudo no futebol. O desinvestimento é bem-vindo, estava preconizado e em linha com as directrizes do fair play financeiro imposto pela UEFA.

Ainda assim, confesso que esperava um valor mais assinalável aqui, tendo em conta o número de atletas que alienamos e colocámos esta temporada. Contudo, jogadores como Casillas, Maxi ou Brahimi, cuja saída no final da época é quase certa, vão representar um alívio bastante significativo da folha. E é bem possível que ainda estejamos a suportar parcialmente salários de jogadores como Bueno ou Ádrian López.


Um outro aspecto menos positivo foi o corte das remunerações de jogadores e técnicos não se ter traduzido propriamente na redução dos custos com pessoal. Porque a massa salarial da administração e dos funcionários do clube aumentou, seja através do salário (uma possibilidade, tendo em conta as pressões ascendentes da inflação), seja através do reforço dos quadros. No geral, a carga salarial da estrutura caiu apenas cerca de 1 milhão de euros para 38 milhões.

Os gastos com fornecimentos e serviços externos aumentaram cerca de 2,5 milhões de euros. Tenham em atenção que aqui não entram as comissões de transações de jogadores.

Aqui, o que aumentou foram os custos com serviços de prospeção de mercado e os custos com serviços de consultadoria jurídica e financeira. Também se verificou um aumento das despesas de produção do Porto Canal.


Isto estará provavelmente relacionado com a denúncia dos emails, que o FC Porto tem levado a cabo no canal e que terá certamente intensificado o aconselhamento jurídico no clube. A alçada do FFP também poderá ter movimentado mais serviços de consultadoria financeira, mas aqui estou apenas em terreno especulativo.

Resumindo e baralhando, os proveitos operacionais aumentaram ligeiramente, mas os custos também, o que significa que aqui ainda há muito trabalho a fazer para queimar gorduras. A redução do prejuízo esteve portanto concentrada nas transações de jogadores, tema que abordarei no próximo post.

Se houver, que isto comigo nunca se sabe.

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